A cena se passa em um bar do boêmio bairro Bom Fim, em Porto Alegre, e sintetiza bem a proposta do filme Bitols (2010, 83 minutos), dirigido por André Arieta. Acusado de apologia às drogas por espectadores que, na segunda-feira, acompanharam a sessão de pré-estreia no CineBancários, o filme promove exatamente o oposto.
Ao retratar a noite de uma banda gaúcha no início dos anos 90, Bitols evidencia como a insistência numa rotina teoricamente romântica e rebelde acaba, em determinado momento, resultando numa caretice ao contrário: não resta qualquer tipo de evolução — seja ela emocional, afetiva ou mesmo artística — no horizonte de João (Bruno Bazzo), Paulo (Leo Felipe), Jorge (Leonardo Machado) e Ringo (Carlinhos Carneiro).
O humor despretensioso e o elenco afinado do filme — com atuação expressiva de Biah Werther, que interpreta a dissoluta Rita — consegue remeter o espectador para o âmago da cena underground da década de 90. Mas Arieta, o diretor e roteirista, não quis facilitar tanto a vida de quem assiste: ele explora com competência uma série de desconstruções narrativas e experimentalismos estéticos — o que é louvável, mas, como as intervenções são ininterruptas, fica complicado para o espectador mergulhar com profundidade na atmosfera de cada cena.
Produção independente do coletivo Cinema8ito, Bitols inicia na próxima semana sessões itinerantes pelo Estado. No blog dentro do site do filme, as salas e os horários serão divulgados nos próximos dias. Enquanto isso, aqui embaixo tem o trailer para assistir — e a relação da banda fictícia com os verdadeiros Beatles, isso é o leitor quem tem que sacar.
Fonte: Paulo Germano, ZERO HORA.
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